::Bordões e gritos de guerra::

“I hunt, therefore I am”

Depois de alguns anos, essas coisas se tornam todas muito interessantes. Não há manuais. Ou há, mas são para os fracos, pros que não entendem onde está a parte boa de fazer o que eu faço. É a diferença entre o Bungee Jump e o tranquilo acampamento de final de semana. O primeiro até parece mais emocionante, arriscado, libera uma quantidade absurda de adrenalina em milésimos de segundo. Mas é de mentira. Você está muito bem preso à cordas e equipamentos de segurança. O salto é falso, a queda é falsa, o medo é provocado, como numa experiência conduzida em laboratório. Já num acampamento tudo pode dar errado. Você é mais um elemento da equação, uma das coisinhas que se esbarram caoticamente. Loucos, cachorros do mato, vacas desembestadas, quedas de barrancos, afogamento, tudo isso está na lista de quem gosta e de quem odeia acampamentos. São os motivos. Não há câmeras ou cordas filmando a realidade.
Não sabemos viver em paz como os antílopes e os coelhos porque somos carnívoros, porque temos os olhos na parte posterior do crânio e não nas laterais. Podemos sim, com a bênção da engenharia de alimentos e de um exército de nutricionistas, abdicar da carne. Mas todas as outras características carnívoras não nos abandonam. Brincamos, nos amamos e fazemos planos a todo o instante. Somos, infelizmente, caçadores por natureza. Caçamos pessoas, palavras, sentido.
Enquanto nascem prontos os herbívoros, com sua pelagem, e mecanismos naturais de defesa, o caçador precisa de mais que seu corpo, precisa de estratégia e adaptação. Quando você se pega escolhendo a roupa com que sai de casa: estratégia. Quando escolhe a hora de pedir aumento: estratégia. Quando escolhe as palavras e os verbos que arranjará em versos lindos e cativantes: estratégia. Coisa de quem não consegue viver em paz mascando suas folhinhas ou acumulando sementes.
A compreensão deturpada desse princípio gerou na grande maioria das pessoas a sensação de que vamos para um campo de caça, caçar e ser caçados numa estranha dança sexual onde todos pensam estar conduzindo. Falso. O que temos nas noitadas, boates, festas é simplesmente bungee jump. Emoções padronizadas, escolhidas e facilmente contornadas.
A vida começa a fazer sentido onde as coisas podem dar errado, onde a vida é realmente alterada pelo poder das ações. Onde são respeitadas as vontades individuais e não as convenções sociais de um determinado local. O sentido pra tudo vem da improbabilidade, vem do que não se pode controlar. Significado está em fazer parte de um sistema desconhecido e caótico, sabendo que cada uma de suas atitudes vai e vai (E VAI), desencadear uma série de consequências boas e ruins, todas inesperadas. Ou quase todas inesperadas.
Meu objetivo é fazer do mundo um local mais agradável e feliz pra todos os que me cercam. Impossível, mas eu continuo bolando os estratagemas. Eu continuo caçando em nome da beleza e da poesia.

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