::trabalho num shopping::

Olho o mundo com certo ceticismo e bastante mau humor. Porque pra sorrir preciso trancafiar cada um dos sentidos, apagar a memória e desligar completamente minha capacidade de analisar. Não há saídas sociais, filosóficas, tecnológicas ou amorosas. A fé continua salvando quem pode pagar por ela e cuspindo lixo no resto. Os ativistas continuam bebendo fumando, andando em seus carros e motos pra salvar um mundo que não tem culpa de estar sendo destruído por nós (eles inclusos). Olho o mundo com certo ceticismo porque há muito a fazer, mas nunca o suficiente. As guerras pessoais foram todas perdidas por quem luta no mesmo time que eu, inclusive por aqueles que ainda irão começar a lutar. Creio que eu tenha começado numa guerra perdida pelo meu lado. Sou cético porque tudo dentro da realidade é imensamente claro, as necessidades estão delineadas, as forças transformadoras estão muito bem estudadas e os culpados todos apontados e odiados. Nada é feito apesar disso. Olho o mundo com meus olhos míopes, céticos, cansados, porque sempre que faço essas incursões estranhas pra fora de mim, me torno ainda mais amargo e cético. Sou mau, sempre em busca do perdão por existir mau, tentando redenções que me façam menos mau, buscando irmãos que queriam lutar minha guerra contra o hedonismo e a ignorância, contra a pobreza e a violência, contra o mau que eu espalho quando escolho sabores, vícios, candidatos. Eremita, andarilho, franciscano, as verdadeiras vocações que abandono em nome da hipocrisia que me mantém simplesmente cínico.

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